A Casa

Texto lindo de Rubem Alves, para traduzir meu sonho concretizando!

Depois de uma longa espera consegui, finalmente, plantar o meu jardim.
Tive de esperar muito tempo porque jardins precisam de terra para existir.
Mas a terra eu não tinha. De meu, eu só tinha o sonho. Sei que é nos sonhos que os jardins existem, antes de existirem do lado de fora. Um jardim é um sonho que virou realidade, revelação de nossa verdade interior escondida, a alma nua se oferecendo ao deleite dos outros, sem vergonha alguma…

Mas os sonhos, sendo coisas belas, são coisas fracas. Sozinhos, eles nada podem fazer: pássaros sem asas… São como as canções, que nada são até que alguém as cante; como as sementes, dentro dos pacotinhos, à espera de alguém que as liberte e as plante na terra. Os sonhos viviam dentro de mim. Eram posse minha. Mas a terra não me pertencia.

(…)
Mas um dia o inesperado aconteceu. O terreno ficou meu. O meu sonho fez amor com a terra e o jardim nasceu.Não chamei paisagista. Paisagistas são especialistas em jardins bonitos. Mas não era isto que eu queria. Queria um jardim que falasse. Pois você não sabe que os jardins falam? Quem diz isto é o Guimarães Rosa: “São muitos e milhões de jardins, e todos os jardins se falam. Os pássaros dos ventos do céu – constantes trazem recados…”

Somente quem tem saudades entende os recados dos jardins. Não chamei um paisagista porque, por competente que fosse, ele não podia ouvir os recados que eu ouvia. As saudades dele não eram as saudades minhas. Até que ele poderia fazer um jardim mais bonito que o meu. Mas não era bem isto que eu queria.

Queria o jardim dos meus sonhos, aquele que existia dentro de mim como saudade. O que eu buscava não era a estética dos espaços de fora; era a poética dos espaços de dentro. Sonho com um jardim. Todos sonham com um jardim. Em cada corpo, um Paraíso que espera…”


Meu jardim começa por aqui!

Vai lá e vê…


Abre os olhos e vê a luz ofuscar suas pupilas…Fecha os olhos…Abre um deles…Respiração ofegante, pensamento agitado: “Caí do céu” ou “Será que anotaram a placa da jamanta que passou por cima de mim?” O dia clareou e ele nem viu, sozinho na cama, sentindo uma vontade gigante de mijar, olha pra os lados e lembra que depois que o dia clareia “é hora de estar chegando na mesa de trabalho” (…) Será que este é meu destino?

Um dia ele acordou sem paciência de vestir a velha máscara, quis ficar de pijama o dia inteiro, sem celular por perto, sem a obrigação de ver as caras que precisam se aturar pro mundo ser civilizado…Apertou o botão do “foda-se” e pediu pra ser ele mesmo, olhar pra o espelho a barba por fazer e entender onde estava antes de entrar na roda gigante que não parou nunca mais pra ele descer…

Vai lá e lê o resto!