O que uma simples festa de bebê faz com as mulheres…

Aniversário de bebês faz isso com as mulheres…mesmo que ainda não tenhamos os nossos, as lulus saem falando de parto, de dor, de alegria, de leite, de seio, de amor, de outro filho…e a gente que ainda não tem nenhum, sabe de tudo por tabela…

Tem épocas na vida das pessoas que ou a familia não tem mais crianças, ou só queremos saber de festa, ou todo mundo tá casando, ou todo mundo vai morrendo…e tem a época em que todo mundo vai tendo filho…a gente vai se re-encontrando em festa do filho dos outros…e até pouco tempo atrás estávamos de paquerinha no banco da escola, risinhos e sonhos na cabeça. A gente se olha e vê a cara de pai ou a cara de mãe, nos olhos daquela menina que cresceu junto, só que dessa vez os olhos seguem, atentos e extasiados, os primeiros passos da pessoinha que tem a cara daquele amigo do colégio, da amiga de todas as horas.

Por mais que os tempos tenham mudado, que não se case mais e que a família tenha outras configurações, nesses momentos a gente chega a conclusão de que não somos sozinhos neste mundo, de que só no contato e na entrega ao outro é que podemos evoluir e praticar o amor, a alegria, a equanimidade e a compaixão. A liberdade vai existir na prática da vida com essas qualidades na relação com o outro, com o mundo, com as emoções e os pensamentos…aí está a grande prática…fora disso, a fuga passa a ser uma prisão…

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…Se virar do avesso pra trazer alguém à luz, sentir os hormônios à flor da pele, ver o corpo mudar por alguém, esperar que o tempo se faça, ser sugada e oferecer a pele, o corpo, as horas, sentir um ninho de apoio a sustentar a vida, apaixonar-se por um ser aos poucos, querê-lo feliz, nutrir seu corpo e seu ânimo, fazer brotar…Sentir a plenitude de ser mulher.

Por que foi que a mulher lutou tanto pra se distanciar dessa essencia que é só sua? Por que buscar dinheiro, posição social, sucesso profissional passou a imperar na vida das mulheres da minha época e a maioria deixou passar tanto tempo pra sentir-se a mais fêmea de todas as fêmeas, a mais sensual, a mulher que gera mais do que um carro, papéis assinados e saltos altos? Por que as mulheres da minha época têm tudo isso e sofrem de endometriose, se enchem de pílula (e consequentemente de celulite) e demoram tanto pra ser mulher de verdade?

OK, somos todas guerreiras, mas como estamos nos sentindo?
E os homens? Por que o mundo amedrontou tanto as pessoas sobre gerar vida?
Dizem que o mundo evoluiu, mas por que as custas disso são pagas com problemas nos relacionamentos? Por que há tanta dificuldade em se doar, em se querer, em ser feliz por todos juntos?

"A felicidade não é um acontecimento individual-sua natureza é a interconexão. Devemos praticar o "que eu possa saber alimentar as sementes de alegria nele ou nela todos os dias". Quando somos capazes de fazer alguém sorrir, a felicidade dele vai nos nutrir também. O amor verdadeiro envolve respeito. Na tradição vietnamita, marido e mulher sempre se respeitam mutuamente como se fossem convidados de honra. Quando as pessoas agem assim, o amor perdura. A pessoa começa com paixão, mas vivendo junto com o companheiro, aprende a lidar com as dificuldades e seu amor se aprofunda. Nghiã é o resultado de compartilhar dificuldades e alegrias por um longo tempo. São os dois que constróem Nghiã na vida diária...Você ama alguém? Todos nós queremos amar e ser amados. Se você não tem alguém para amar, seu coração pode secar. O Amor traz felicidade para nós e para aqueles que amamos."
(Ensinamentos sobre o Amor- Thich Nhat Hanh)

O que uma festinha de aniversário desperta nas mulheres…

Encontro

*Trilha sonora ali embaixo!
Antes que chegasse ao final da rua, percebeu- em um instante de memória- que havia deixado o pacote em cima do balcão. Ao virar-se para voltar, esbarrou em uma pessoa, deixando cair seus pacotes. Daqueles momentos de confusão e mil-coisas-por-fazer-sem-tempo-de-querer, foi como se o mundo a tivesse cutucado. Olhou para aqueles olhos expressivos e caiu em si.

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Como se em um segundo, o universo passasse em câmera lenta, os dois entreolharam-se e os sons a volta sumiram…tudo parou para que observasse aquele encontro. Naquele segundo, seu coração saltou, deu uma pirueta e caiu duro, prevendo o que poderia vir a ser. Ele parou o que ia fazer, olhou bem pra ela, que não disse nada. O momento ficou guardado. Olhares eternizados, o mundo voltou a girar- cada qual com seus problemas- e o coração não parou de suspirar…

A minha casa

É um lugar onde se pode confiar,
onde só há sentimento puro,
prazeroso, majestoso.
Um lugar indivisível,
perfeito para morar.
Não está longe daqui,
sabe, nele sempre vivi.

Não, não é um paraíso.
Tive muito trabalho para construir.
Foi difícil para mim,
mas conquistei a mim mesmo.

Minha casa é de cristal
límpido e transparente
e quem quiser me achar
basta olhar a casa
e lá me encontrará.

Estarei lá ou
em qualquer outro lugar,
pois levo a casa comigo.
Fiz da minha alma
um lugar bom de se morar.

Quer entrar ?
Sinta-se em casa.
Sua própria casa.
Por que ?
Porque as almas…
não são diferentes.

É aqui. É meu, seu,
e de quem quiser vir.
Basta ter um bom coração,
ser sincero consigo mesmo
e ter aprendido
a conjugar o verbo amar

(por Jorge Lennon)

Gosto de dançar junto…mas não caio mais em ‘histórias de amor’…

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“André Gorz avistou Dorine descendo a rua. Havia acabado de nevar e um chuvisco formava ondas nos cabelos dela. André a conhecera semanas antes, recém-chegada à Suíça para ser atriz de um grupo de Lausanne. Ao ver aquela inglesa “bela como um sonho”, ele soube que não tinha chance. Judeu austríaco no pós-guerra, pobre e narigudo, ele fora descrito para ela como “inteiramente desprovido de interesse”.

Mas ela tinha passos de dançarina e, ao encontrá-la na rua, ele a convidou para dançar. Dorine respondeu, na voz aguda das britânicas: “Why not?”. A dança se estendeu por 60 anos.

Na terceira ou quarta vez que saíram ele a beijou. Despiu seu corpo com cautela. Compreendeu “que o prazer não é algo que se tome ou dê. É um jeito de dar-se e de pedir ao outro a doação de si”.

Apertados um contra o outro, dividiram os 60 centímetros de largura do “velho sofazinho afundado”. Era outubro de 1947. Em 22 de setembro de 2007 eles foram encontrados mortos, lado a lado na cama de sua casa na França. Tinham mais de 80 anos. E haviam consumado um pacto de suicídio por injeção letal.

O duplo suicídio não foi um gesto de desespero, mas o derradeiro ato de amor. Havia décadas Dorine sofria dores terríveis na cabeça e no corpo causadas por uma doença progressiva. “Eu queria acreditar que nós tínhamos tudo em comum, mas você estava sozinha em sua aflição.” Até encontrá-la, André não queria existir. Quando Dorine estava de partida, soube que só tinha valido a pena existir não por ela, mas nela. André a habitava. Aquém e além da filosofia, Dorine era o único mundo onde não era estrangeiro.

Um ano antes do suicídio, em 2006, ele escreveu uma carta para Dorine. Nela, refez a longa dança que dançaram juntos para acertar com ela cada passo. Deu sentido a cada um dos avanços, recuos e pisões no pé de toda uma vida. “Você era quem punha entre parênteses esse mundo ameaçador”, escreveu.

Fernando Pessoa disse que todas as cartas de amor são ridículas – “não seriam cartas de amor se não fossem ridículas” – porque não há como escrever sobre algo indizível como o encantamento amoroso, apreender o que escapa. A carta de amor a Dorine se esquiva também dessa definição. É só bela. Assombrosamente bela.

Ao refazer a coreografia amorosa, André percorre também o itinerário de suas idéias e de uma época. Dorine é quem o lembra da força da realidade, mais complexa e movediça que qualquer teoria. Nesse embate de inteligências, é ela quem o protege. “Amar um escritor é amar que ele escreva. Então escreva”, repetia.

André Gorz trilhou em Paris uma carreira marcada pelo existencialismo e tornou-se um dos intelectuais mais importantes da segunda metade do século XX. Editou com Sartre a célebre revista Les Temps Modemes e foi um dos inspiradores do Maio de 1968. Depois de virar guru da esquerda com teorias sobre o trabalho, causou assombro ao questionar postulados do marxismo no livro Adeus ao Proletariado, em 1980.

Entraram, André e Dorine, juntos no tema da “ecologia política”. Enquanto ele criticava a destruição ambiental e a mercantilização das relações no capitalismo, ela desenhava uma casa com as janelas abertas para a copa das árvores. Na primeira noite debaixo desse teto, “um escutava a respiração do outro”. Foram enxotados de lá por uma usina nuclear. Ao redor da casa onde envelheceram, André plantou 200 árvores. A carta de amor foi seu último livro. “Você é o essencial sem o qual todo o resto, importante apenas porque você existe, perderá o sentido e a importância.” André havia descoberto que não queria dançar sem Dorine.”
-Crítica escrita por Eliane Brum-

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Sensibilidade ao descrever o Amor (André Gorz, em Carta a D. História de um Amor)…gosto de lê-lo , mas apenas pra lembrar que às vezes histórias de amor acontecem…mesmo sabendo que são poucas. Não caio mais de boca no amor, como quem fantasia príncipes em uma casinha cor-de-rosa…Sinto muito (em vários sentidos), observo, rego com carinho, vivencio sem deixar passar, mas no amor descrito pelo Romantismo das décadas de 30, 40 e 50-que ainda é citado- e por músicas que se ouvem por aí, já não acredito mais…

Aliás, por que não se vivenciam mais histórias de amor como antes, como as que ouvi acontecer??? Primeiro vou me deliciar com esta (de André Gorz e Dorine), depois conto as que registrei…

Serenou, serenou…expressões do feminino em mim

*Trilha sonora ali embaixo!
“O mar serenou quando ela pisou na areia
Quem samba na beira do mar é sereia

A estrela que estava escondida
Sentiu-se atraída
depois então
apareceu
Mas ficou tão enternecida
Indagou a si mesma a estrela
afinal será ela ou sou eu

O mar serenou quando ela pisou na areia
Quem samba na beira do mar é sereia”

Lembrei daquele chá, que foi bom por um tempo, limpou muita coisa, serenou enquanto estava em mim…Agora serenam os dias, e me lembro do som de “serenou, serenou”, quando tudo passava e eu extasiada e ao mesmo tempo aliviada, voltava a mim mesma e sorria sem saber por que!

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Volto a mim e percebo- enquanto conversamos – que a sereia em mim samba e sorri, seduz sim-e daí? – e fica feliz em poder expressar sua beleza sem os receios de contrariar…Coxas, quadril, cabelos e seios dançam serenamente o meu feminino, soltam no ar o doce perfume de pele fresca e macia, querendo aninhar.

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Sereia que nina, cuidado de mãe- ainda que como mãe não tenha nascido, ainda- expressão do feminino nos meus braços, adormecendo e confiando no meu colo, quando me dou conta de que o mundo do bebê serenou em mim, sereno meu coração, volto a mim. Um ninar que nina a mim mesma, que sente o prazer de ter os braços de uma mulher-mãe, o universo em meus braços-sensação da mãe que posso ser. Mulher que quer ninho.

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Estrela que estava escondida em mim, que busca também alento nos braços de quem a queira. Mulher (in)segura, que sabe o que quer, mas deixa-se enlaçar pelo samba gostoso do mar. Que sabe-se completa, mas guarda um espaço pra compartilhar, que gosta dos braços abraços do homem que vier- que seja inteiro, com altos e baixos, de verdade, sem fantasias de menina- …sereia que encanta, que busca amar.

Volto a mim, olho no espelho do mundo, sereno…e sorrio sem saber por que…afinal, será ela ou sou eu?

Onde os fracos não têm vez

Sei que estou um tanto direta, mas a frase do ano combina com este meu momento:

…e o homem disse que não fará a escolha sem saber o que está em jogo…então Chigurth responde:

“Call it, friendo”

A vida é assim, escolha ou corre o risco de perder grandes oportunidades!

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Figura mais certa em mim não há: um peixe que vai e outro que vem; um doce, pacífico e encantador, o outro apimentado e direto e explosivo e…Ainda bem que estou no Caminho do Meio…literalmente e tentando achar o tom…Ser mulher em tempos de cólera pode ser um perigo -aos outros- ainda bem que dura 5 dias e só vem de novo daqui há 28…

O que acontece com uma mulher que chega aos trinta e começa a sentir-se plena? Gente do céu…onde vou parar? Sensação de não ter mais limites!! Estou pronta, apaixonadamente pronta, vamos?

Você é um homem ou um Rato?

Sei que todos estamos no mesmo barco e sei também que apesar de sermos todos iguais, temos visões diferentes sobre o mesmo tema…

O que eu ainda não entendi é essa mania de alguns caras de achar que estão com tudo, só porque demonstramos nosso carinho com mais facilidade…carinho não quer dizer “estou caidinha por você”, só quer dizer CARINHO, como eu gostaria de ser tratada também e como acho que todos devem ser tratados…é claro que sentimos mais afinidade por algumas pessoas e por isso vamos dispender mais carinho por estas que por outras…mas daí o cara ficar achando que desse carinho podemos avançar por sobre eles…é um ego que tá inflado demais, não é?

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Então ele se faz de gostoso, finge que não está nem ai, faz cara de blasé, e perde a oportunidade de ter uma grande amizade…tudo por que pensou que seria devorado…enquanto a gente só queria curtir um papo legal, uma companhia divertida…Homem é bicho esquisito…Não sei se é medo de ter uma mulher interessante como amiga, ou medo de que essa mulher goste dele de outro jeito ou, pior ainda, de passar a gostar dela e achar que ela é demais pra ele…

Mas me cansa um pouco essa falta de tato, de atenção, esse excesso de medo nas relações…Me cansa ter que ocultar sentimentos tão legais, por que o cara não vai entender que pra mim amizade é tudo que há no mundo, que eu as cultivo como a preciosas flores, que se rolar outra coisa tá tudo bem…e que comunicação sincera resolve qualquer mal entendido!

Aliás, pessoinhas que pensam que são o centro do Universo, me cansam!
Foda-se que você pensa que as mulheres se apaixonam por você, foda-se sozinho, porque o tempo é muito precioso pra ter que fingir sentimentos, pra ter que se fazer de pessoa distante- coisa que não sou – as relações são muito importantes para a prática dos meus dias mais felizes…não tenho tempo a perder com ‘joguinhos’, não tenho tempo a perder com ‘tipinhos’, não temos tempo a perder!

‘Pessoas’ são a coisa que mais amo, e sei que somos juntos-todos- a oportunidade de ultrapassarmos grandes obstáculos e estarmos melhores nesse mundo, por isso ‘bem’, espero do fundo do coração que essas pessoinhas se libertem disso, e possam viver com o carinho dos outros sem ter medo!!!!!

Mudando de vida

Sabe aquelas pessoas- e todos nós conhecemos pelo menos uma- que chegam aos trinta e poucos ou quarenta e sentem que precisam mudar de vida? Sempre pensei que não queria chegar a esse fim…então sou intensa no que toca meu coração, fico atenta ao que provoco nos outros e meus pés acompanham os movimentos de contração e dilatação do centro do meu peito… Acho que foi por isso que meus pés rumaram, e ainda voltarão a tocar, aquela terra cheia de contrastes, que me ensinou a beleza das imperfeições e que me fisgou para sempre-para todas as vidas que eu tiver.

Quando deitei na cama naquela madrugada de inverno oriental, o cansaço era muito menor que a excitação do novo. O amável sorriso, o olhar compassivo e livre de máculas, a inocência infantil do povo, a luta pela sobrevivência de forma pacífica, fizeram que as sinapses do meu cérebro funcionassem de tal forma que nunca mais foi possível voltar atrás no entendimento-ou falta de- de algumas coisas…e isso que eu ainda não tinha chegado aos trinta…

A imensidão e a promessa de amor eterno das lívidas paredes de miles de anos, guardando o silencioso mistério da morte lado a lado, as alvas montanhas erguidas aos meus pés, que me mostraram o tamanho exato dos meus “problemas”, o caminhar até “depois do fim do mundo” e ainda ter que subir uma estreita escada pra chegar lá…a cantoria na imensidão das montanhas verdes e isoladas há cerca de 2500m, e os efeitos que provocaram em mim, dançar no meio do salão, sem se preocupar que os outros estão ali, dormir e acordar com os vidros embaçados de frio, deslizar pelas águas sagradas de madrugada, presenciar o ritual de passagem da vida, tomar chá e trocar confidências com uma desconhecida no outro lado do mundo, e chorar de saudade antes de partir…

tatu
Tudo isso ficou gravado no meu ser, na minha pele inteira, como tatuagem, e quando pisei em “casa” de novo, não poderia mais ver o mundo com os mesmos olhos…A vida tomou rumos improváveis, inseguros e inusitados, mas inteiramente coerentes com meu coração- e por isso a segurança de estar no caminho certo, por mais que o cognitivo não pudesse alcançar…Perder tempo nessa vida não é mais possível, deixar de perceber as pessoas a minha volta e fingir que nada acontece quando o mundo dá voltas, eresia. Andar anestesiada pelo tempo e pelos afazeres a cumprir não fazia mais sentido…

A vida ficou mais simples, o compromisso é na relação com o mundo, comigo mesma e com os outros- não mais com tarefas, dinheiro e contas a pagar- a motivação melhorou tudo o que podia, aliás, o dinheiro passou a ter outro significado e, quando preciso, ele sempre está lá, por incrível que pareça. Aos poucos, me invadiu uma plenitude que culmina com a balzaquiana que acabo de me tornar.

Mudando de história…

Essas mulheres me cansam um pouco…então, pra nao brigar com elas, mudo de assunto e a história fica melhor, elas esquecem dos Fobus, da cama e dos braços do morfeu por um instante e escutam uma nova historinha:

Sentada na poltrona da sala de embarque, eu sabia que fosse com quem fosse, depois que subisse naquele avião, não voltaria nunca mais (a ser como era antes). A primeira sensação…na primeira escala…foi de estar livre, rindo sozinha e de mim mesma, eu e minha mochila, sozinhas e tão bem acompanhadas!

No outro dia, a segunda escala, um mundo novo, não sabia nem como se telefonava pra casa…estou sozinha em um mundo cheio de gala, sem entender nada, não sei falar francês e eles, que eram tão educados, se acotovelam na porta de embarque do meu segundo avião…Meu corpo toma forma de poltrona de avião, já cansei de olhar todos os vídeos da minha telinha particular, ouvi música e vi meu aviãozinho no meio da imensidão do oceano…a essa altura o banheiro já virou sucursal de WC público do centro de cidade do Brasil…nem coragem de entrar…caminho de ponta a ponta, não consigo dormir, na verdade eu e mais um bando, que faz maratona nos corredores…

Será que alguém me espera no outro planeta?? E o que será que me espera? O que eu fui fazer ali, mesmo? Em busca de quê? Não sei, só sei que foi assim, o coração sentiu e os pés rumaram sem perguntar, só tinha a certeza que aquele era o caminho…

Era madrugada quando desci em terra firme- sensação de chegar em casa! Mas por que será que a minha mala sempre é a última da esteira? E porque será que eu fiquei sozinha do lado daquela esteria enorme e a minha mala não veio??? Fui tentar explicar, depois de 18h de tudo e mais um pouco e 8h de fuso horário na cabeça, no meu inglês tupiniquim, que minha casa ambulante não veio comigo…a verdade é que três tentaram comunicação e não foi possível um entendimento…de repente, vem um correndo lá de dentro, com a minha “filha” de 18kg, toda suja-coitada- no colo, e me entrega todo feliz…devia ter passado uma hora e eu nem fiquei sabendo o que aconteceu…me sinto em casa, mas o povo ali é enrolado mesmo!

Então me lembrei que depois de tanto tempo, quem foi me buscar deve ter desistido (porque o pior é que ninguém entra no aeroporto ali, se não for viajar ou estiver chegando…), então pra achar quem espera, só do lado de fora, com aquela muvuca singular, misturado com todos os cheiros possíveis e característicos.

Abre a porta do aeroporto e ele estava lá (e eu que nem me lembrei de pentear o cabelo pra pelo menos parecer que tinha acabado de tomar banho…) Recebi um colar de flores de boas vindas, um abraço querido e…minha vida não foi mais a mesma- esse planeta me enfeitiçou…meu coração ficou um pedaço lá- até hoje!